A espinha do diabo (El espinazo del diablo, 2001)
- Pedro Alves
- 25 de set. de 2015
- 2 min de leitura

Muito longe do que o título possa sugerir, A Espinha do Diabo não se trata de um filme que aborde temas religiosos ou, ainda, de um filme B sanguinolento. Em seu terceiro longa-metragem, Guillermo del Toro resolve explorar a guerra civil espanhola nos anos de 1930. Com elementos fantásticos, o roteiro aborda a chegada de Carlos (Fernando Tielve), um garoto de 12 anos que é deixado pelo seu tutor em um orfanato onde os filhos dos combatentes são criados até que a guerra termine. A instituição é localizada em um lugar remoto e os encarregados de cuidarem das crianças são Carmem (Marisa Paredes), que assume a função de diretora, e Casares (Federico Luppi), um professor de ciências e médico nas horas vagas. Se não bastasse os temores decorrentes da guerra em si, os órfãos ainda são obrigados a conviver com a presença de um fantasma de um ex-interno.

A abordagem do diretor a guerra civil é feita de maneira distanciada, o que nos proporciona um maior aprofundamento no cotidiano dos civis da época. Diferentemente de um dos últimos longas-metragens do diretor que também aborda a mesma época — O Labirinto do Fauno — , Del Toro resolve dosar mais os aspectos fantasiosos da trama e investir no suspense e no drama de época, proporcionando que as situações sobrenaturais passadas pelos órfãos adquiram uma aura potencialmente mais crível. Os aspectos técnicos da película também merecem destaque. A começar pelo figurino até a cenografia, todos os componentes contribuem para que a ambientação da Espanha da década de 1930 seja verossímil. O longa-metragem possui um paralelo com o Pixote de Hector Babenco por se tratar, em sua base, de uma metáfora de amadurecimento da inocência para a fase adulta. Ambos, o personagem-título de Babenco e o Carlos de Del Toro, começam o filme com uma visão infantil do mundo que os cerca (por mais que Pixote seja um anti-herói) e a cada novo acontecimento vão formulando seu caráter amadurecido. As cenas finais dos dois filmes são bem emblemáticas ao mostrar um dualismo entre o infantil e o adulto: no caso de A Espinha do Diabo esse equilíbrio dinâmico se faz presente ao mostrar os órfãos empunhando armas em sua caminhada final.
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