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Dez minutos mais velho (Par desmit minutem vecaks, 1978)

  • Foto do escritor: Pedro Alves
    Pedro Alves
  • 7 de out. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 19 de mar.


Quem diria que um dos filmes mais importantes de todos os tempos a retratar a infância, o cinema e, principalmente, a relação existente entre os dois seria um curta-metragem soviético da década de 1970? Quando fiz a lista para o Film Tober, eu tinha poucas certezas: uma delas era que incluiria esse filme tão subvalorizado em algum dos dias; a outra era que seria uma tarefa bastante difícil — beirando o impossível — conseguir dimensionar… Minto. Conseguir apenas descrever o que o realizador Herz Frank consegue produzir em “apenas” dez minutos.

O filme parte de uma premissa simples em um primeiro momento: acompanhamos a reação de um grupo de crianças dentro do que aparenta ser uma sala de cinema. Não são oferecidas informações individualizantes sobre nenhuma delas, não escutamos o som captado, nunca é informado o que os pequenos estão assistindo, nada. Muito semelhante a experiência de Shirin (2008) de Kiarostami. O foco aqui é unicamente as suas reações e as sinfonias que elas produzem. Escrevo isso, porque a trilha da orquestra que acompanha o filme do início ao fim parece transmutar de acordo com as mudanças de sensações/sentimentos/estados de espírito das crianças.

Permita-me, agora, contar um pouco sobre a minha própria experiência com o cinema durante a infância. Uma das primeiras memórias vívidas que tenho de uma sala de cinema é de uma sessão legendada do filme O Professor Aloprado 2 :  A Família Klump (2000) de Peter Segal. Eu me recordo que eu, minha mãe e meu pai fomos para assistir a outro filme cuja sessão estava com os ingressos esgotados. Só sobrara essa disponível. Não me recordo se houve algum problema em relação a classificação indicativa a época, mas, ao fim, consegui entrar. Foi uma experiência única. Não pelo filme em si que, a propósito, nunca assisti novamente, mas tenho minhas suspeitas em relação a sua qualidade duvidosa. Me refiro ao fato de, recém-alfabetizado, não conseguir ler absolutamente nada das legendas e ser guiado exclusivamente pelos estímulos visuais do filme e, veja bem, pela claque ao vivo da plateia. Rir no momento que todos começavam a rir foi uma experiência quase catártica. Como uma pessoa não-religiosa não posso afirmar com propriedade, mas suspeito ser a mesma sensação sentida pelos fiéis durante as comunhões da igreja.

O filme de Herz consegue captar essa experiência catártica que é a sessão de cinema visto pelos olhos das pessoas mais suscetíveis possíveis da audiência. Aqui o termo é utilizado de forma não-pejorativa. Refiro-me a sucessibilidade como a abertura às múltiplas, conflitantes, rápidas e intensas emoções. Um dos meninos que a câmera se detém por mais tempo transita, em um curtíssimo espaço de tempo, por medo, pavor, tristeza, felicidade e alegria. Tudo isso enquanto permanece com os olhos vidrados na sequência de imagens a sua frente. Um fascínio que emoção alguma, seja positiva ou negativa, consegue diminuir.

Antes mesmo de acompanharmos essas sequências de reações (que, a propósito, podem ser consideradas como uma versão beta dos reactions que encontramos hoje em dia em plataformas como a do Youtube, né?), existe o título do filme: Dez minutos mais velho. Ele pode significar coisas diferentes dependendo do ponto de vista escolhido. Pelo ponto de vista de nós, espectadores, e seguindo a máxima de Heráclito de “nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio”, nós envelhecemos; nós estamos dez minutos mais velhos. Entramos como um espectador e saímos como outro; ao revê-lo não seremos mais os mesmos.

Contudo, existe ainda uma outra leitura mais interessante para quem estuda a infância e a sétima arte: acompanhamos em “tempo-real” uma narrativa de amadurecimento durante o filme. Ao invés de um grande período de tempo como o documentário tradicional ou, ainda, uma ficção com propostas semelhantes a essa como o Boyhood: Da Infância à Juventude (2014) do Linklater; aqui é ofertado a nós acompanhar essa experiência catártica que é o cinema durante a infância. Ou ainda: a existência como uma criança; apresentada a contínuas primeiras-vezes para o que será posteriormente encarado com banalidade e distanciamento após o amadurecimento.

Par desmit minutem vecaks nos convida a olhar a criança, o cinema e o amadurecer. Durante 10 minutos, acompanhamos a torrente de emoções e acontecimentos transpassados por cada um daqueles jovens. Eu me vejo sempre retraindo o rosto quando o menininho grita e chora. Um sentimento semelhante ao experienciado quando revejo Kids do MGMT. Contudo, a diferença primordial aqui é a rápida mudança com que cada uma das sensações se apresenta, ocorre e se dissipa. Herz Frank nos convida a vivenciar novamente uma forma de existência já esquecida por nós. Uma maneira de sermos afetados por sentimentos de maneira rápida, mas nem por isso menos intensa. De enxergar as imagens com uma abertura e certa dose bem-vinda de inexperiência. Enfim, Frank nos convida a enxergar as imagens como uma criança.


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