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Hereditário (Hereditary, 2018)

  • Foto do escritor: Pedro Alves
    Pedro Alves
  • 22 de jun. de 2018
  • 3 min de leitura

De uns tempos para cá, a crítica e o público cinéfilo tem apontado para o surgimento de um novo movimento cinematográfico que tem ocorrido no gênero do terror: o “pós-horror”. O termo cunhado visa abranger uma nova leva de longas independentes de terror que está subvertendo os clichês do gênero e optando por uma história mais desenvolvida, além de um esmero na construção de uma atmosfera soturna. Vamos deixar de lado que esse “fenômeno” sempre esteve ocorrendo pelo globo nas cinematografias que não se podem dar o luxo de ter um mercado nacional destinado a apenas um gênero específico (Brasil incluso com sua dupla Juliana Rojas e Marco Dutra); também vamos isolar que esse movimento cinematográfico somente se refere, em sua grande maioria, a filmes feitos por norte-americanos que, como ocorre na maioria das vezes, pensam estar inventando a roda. Temos que concordar, entretanto, que existe um grande lançamento de filmes (estadunidenses) contemporâneos que se encaixam no termo recém-cunhado. Uma das produtoras que participa mais ativamente dessas obras de pós-terror, sem sombra de dúvidas, é a A24. Criada em 2012, a produtora possuiu, entre seus primeiros trabalhos produzidos e distribuídos, obras de realizadores renomados como Roman Coppola, Harmony Korine (Spring Breakers: Garotas Perigosas!) e Sofia Coppola (Bling Ring: A Gangue de Hollywood!!). A A24 começou a apostar em longas que não se encaixavam a primeira vista no gênero do terror que o público norte-americano estava acostumado, mas que eram excepcionais na tarefa de criação de uma atmosfera incómoda: O Homem Duplicado (2013), Sob a Pele (2013) e Tusk: A Transformação (2014) são apenas alguns exemplos. Foi com o lançamento do premiadíssimo A Bruxa (2016) que a produtora virou um sinônimo de filmes de terror indie-cabeçuco-festival-talvez-não-dê-medo-mas-são-muito-bonitos.



Bem. Com ‘Hereditário’, o gênero do pós-terror pode ter conseguido sua obra manifesto. Uma amálgama entre clichês já conhecidos dos filmes de terror ditos mainstream aliados a uma subversão e trabalho visual que, para além de somente sustos gratuitos, querem contar uma história bem escrita. O filme guarda várias semelhanças com seus predecessores do pós-terror, mas talvez sua maior similaridade seja deixar o terror contido na mente dos personagens durante a maior parte do tempo e fazer o expectador compreendê-los.

A história segue a vida de uma família classe-média alta composta por seus pais e dois filhos logo após o falecimento da vó, mãe da matriarca. Através das cenas de luto, vamos montando um panorama de cada um de seus personagens e de como a falecida mulher ocupava um lugar de autoridade manipulativa naquela residência.

Hereditário nunca engana seus espectadores, por mais que não canse de surpreendê-los os deixando com a guarda abaixada. Durante seus primeiros minutos, todas as peças para desvendar os acontecimentos inexplicáveis, as cenas nonsense e o terror passado por cada um de seus protagonistas estão a nossa disposição. Desde seu título, o filme já nos diz que seu intuito não está intrinsecamente ligado a uma história de terror rotineira. Somos convidados a seguir cada um dos membros familiares que possuem suas rotinas alteradas por conta do luto: seja pela falta dele ilustrada através da mãe (Toni Collette com uma atuação de outro mundo); ou através de seu excesso na vida da pequena Charlie. Aos personagens masculinos resta pouco para desenvolver na primeira metade do longa-metragem, já que a importância deles está relacionada diretamente a virada narrativa que o filme dá.

Pequenos momentos simbólicos são importantes para que o espectador não seja pego desprevenido ao final do filme. A menina Chalie, por exemplo, tem uma alergia severa a nozes (nuts) que é pontuada sempre que possível na trama. A expressão ‘nuts’ também pode ser utilizada para chamar alguém de maluco, por exemplo.



A direção de Ari Aster é excepcional. O diretor vai gradualmente construindo a atmosfera necessária e desenvolvendo seus personagens calmamente até o insano clímax. Sua predileção por planos-sequências somente vem a somar para a transposição do terror para a tela do cinema — destaque para quando a personagem da mãe vai participar de uma sessão de conjuração de espíritos junto a uma amiga. As atuações funcionam perfeitamente, inclusive, em personagens secundários — a avó, por exemplo, por mais que apareça apenas durante alguns instantes do filme, consegue dar um ar de uma coisa proibida a qual estamos presenciando. O desenho de som desse filme anda lado a lado com a crescente tensão e é em decorrência dele que certas sequências se tornam tão marcantes — não irei falar qual, pois seria um spoiler, mas é relacionado com insetos, uma cabeça, uma estrada e um grito.

Hereditário guarda em seu título a ambiguidade que entrega ao espectador durante os seus 127 minutos de projeção: existem mais coisas transmitidas hereditariamente do que maldições demoníacas.

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