Projeto Flórida (The Florida Project, 2017)
- Pedro Alves
- 5 de jan. de 2018
- 3 min de leitura

Desde de sua primeira sequência, Projeto Flórida consegue demonstrar a forma lúdica com que irá tratar as dificuldades vividas pela pequena protagonista Moone. O simples fato de chegarem novos moradores ao Magic Castle — motel onde a garota vive com sua mãe — é tratado como uma divertida aventura por ela e seus amigos. Em seu título, o longa também fornece dicas do que pretende abordar já que Florida Project faz referência a como denominavam o Disney World durante o planejamento de sua construção. Em seu novo longa-metragem, Sean Baker segue a linha adotada em sua obra anterior, Tangerina (2015), ao dar protagonismo a personagens cotidianos que são abnegados ao esquecimento. Aqui, vemos toda a rotina das famílias que vivem em motéis na Florida. As manias e dificuldades enfrentadas pelos adultos reverberando no universo infantil com uma precisão cristalina. Por mais que, em sua maior parte, acompanhamos Moone e seus amigos desbravando o território ao seu redor durante as férias de verão; os personagens adultos que orbitam essa narrativa são tão interessantes quanto.

Bria Vinaite está primorosa no papel de mãe solteira da protagonista. Todos os trejeitos e expressões adotados pela atriz conseguem extrair nossa simpatia pela personagem que esconde todos seus medos e decepções em uma máscara de impulsividade e ódio. Willem Dafoe realmente merece todos os prêmios que está arrebatando como Bobby, o gerente do Magic Castle. Dafoe faz aqui um estudo de personagem e consegue agregar nuanças que fazem o gerente ser, mais do que carismático, humano. Tudo isso, vale ressaltar, com uma atuação contida e sem maneirismos.
Todavia, é Brooklynn Prince com sua interpretação de Moone que merece todo o destaque possível. A direção proposta por Baker possui uma via intimista que se utiliza de planos fechados em momentos de muita tensão, além de uma composição de cena que consegue utilizar toda a paisagem peculiar do entorno — o Magic Castle se localiza nas redondezas do Walt Disney World e possui cores vivas e pulsantes nas paredes, somado a construções de formatos peculiares. Foi necessário para todo o elenco, principalmente a Moone, ter uma corporalidade tremenda visto que em muitos dos planos só conseguimos ver partes do corpo, ou as costas do elenco. E Brooklynn Prince conseguiu arrebatar meu coraçãozinho!

Durante toda a narrativa, acompanhamos a dura rotina dos moradores através de pequenos plots que vão sendo criados e concluídos em seu próprio tempo. Pessoas que se odeiam terminam por se tornar amigas; o inverso acontece também; famílias se mudam para o motel e, também, dele para outro lugar — tudo observado por nós. Em nenhum momento, porém, o filme tenta dramatizar em excesso os ocasos que acontecem no Magic Castle. Ele prefere adotar uma visão infantil: onde as coisas ruins são facilmente sobrepujadas por pequenas faíscas de felicidade.
Em sua sequência final, Sean Baker busca, através da expertise técnica adquirida com seu longa-metragem anterior, burlar as regras e elevar o tom lúdico do filme ao seu extremo. De meu conhecimento, apenas uma obra havia realizado tal feito: Escape from Tomorrow de 2013. Afinal, por mais que possua uma história complexa e adulta como base, o ponto de vista que guia os espectadores sempre é o da pequena Moone e sua visão mágica e brincalhona das situações ao seu redor. Nada mais justo do que deixar a própria personagem guiar o fechamento catártico do filme.
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